quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Entrevista com Hiroya Oku pela editora Glénat



Uma entrevista que excede as leis diplomáticas japonesas mais rígidas ao autor de Gantz, o atual e maior mangá de ficção científica.

(realizada na época da publicação do volume 24 da série)







Hernán Migoya: Para mim é uma honra receber impressões diretas do autor de Gantz, sem dúvida o meu mangá favorito. Oku demorou, mas finalmente enviou suas respostas a um questionário que propomos. Sempre imaginamos os mangakás trancados em seus escritórios, rodeados por seus computadores todos os dias, e então que nós roubamos um pouco de seu tempo precioso e corrido. Em qualquer caso, me sinto muito sortudo por ter sido capaz de perscrutar a mente de um dos maiores mestres do mangá de hoje.
Creio que Gantz é o que há nesta década assim como Akira foi nos anos 80. Você tem noção de que criou uma obra que revolucionou a narração de shounens?

Hiroya Oku: Para mim é uma honra quando comparam Gantz com Akira, pois essa série teve uma grande influência sobre mim. Espero superar Akira, trabalhando do meu jeito até uma direção diferente.

Hernán Migoya: O mais fascinante em Gantz é que você consegue mesclar o ridículo a primeira vista com o terror perturbador. Por exemplo, o Alien Cebolinha (o primeiro vilão do mangá) que desperta ternura e risos no começo e depois medo e tensão. Você tem consciência sobre essa estupenda combinação entre a comédia e o terror?

Hiroya Oku: Como Gantz é uma história extravagante (irreal), tenho o máximo de cuidado possível com o realismo que se pode dar na hora de desenhar. Acho que é aí que se reflete a minha impressão sobre a realidade, mesmo que possa por um momento casual parecer engraçado em cima de uma situação séria.

Hernán Migoya: Gantz parece mais um mundo paralelo; um estado onírico: há momentos que transmitem a sensação de que toda a realidade do universo de Gantz é na verdade um sonho gigantesco. A sua intenção como autor era criar uma nova forma de lógica ou você fez isso inconscientemente?

Hiroya Oku: Eu coloquei todas as minhas obsessões em Gantz e dei certa coerência a essa energia para que fosse convincente. Acho que por isso há essa impressão de "sonho", como se alguém estivesse sonhando. A história segue segundo o roteiro previamente criado de maneira geral a certo nível.

Hernán Migoya: Kei Kurono bem que poderia ser um personagem de uma comédia universitária. Ao fazer o personagem principal de Gantz, você conseguiu com que os leitores se identificassem nele. Você sempre teve em mente criar um personagem com tantas inseguranças, covardias e complexos como Kei?

Hiroya Oku: Eu pensei em criar um personagem parecido com um jovem qualquer de hoje em dia, com a finalidade de que realmente os jovens se identificassem com ele. É a velha ideia de fazer uma síntese de condições básicas para uma obra de entretenimento.

Hernán Migoya: Em um volume de Gantz, você revelou que seu filme favorito é Duro de Matar (Die Hard, 1988), de John McTiernan. Porém, em Gantz há tanta influencia do gênero de terror como de ação. Que outros filmes, novelas e comics te influenciaram?

Hiroya Oku: Minha geração experimentou o BOOM! do cinema de terror, que talvez tenha sim me influenciado. Com respeito à todas as obras que me influenciaram, é impossível citar todas, pois eu assisti uma quantidade enorme de filmes durante toda minha vida. Eu vi toda a saga dos mortos vivos de George Andrew Romero e quase todos os filmes de Steven Spielberg também. Vejo vários filmes de Hollywood e várias novelas japonesas. Meus mangakás favoritos são Osamu Tezuka, Rumiko Takahashi, Yoshikazu Yasuhiko, Ryoichi Ikegami, Katsuhiro Otomo, entre outros. Animadores como Yoshiyuki Tomino, Osamu Dezaki, Hayao Miyazaki, me influenciaram também.

Hernán Migoya: De onde tira tantas ideias visuais alucinantes, como o efeito atrasado das armas e o massacre feito pelo Izumi naquela rua?

Hiroya Oku: A cena em que o Izumi mata a todos em Shinjuku me ocorreu um dia quando eu passava por ali e guardei isso na mente para criar uma história curta, e isso resultou que a terminei quase forçadamente com o apartamento de Gantz. Outras ideias costumam me ocorrer na minha vida cotidiana...

Hernán Migoya: O nível de erotismo e violência em Gantz é surpreendente. Você já chegou a se auto censurar? Há alguma ocasião em que você não pudesse expressar por ser muito forte para os leitores?

Hiroya Oku: Não, eu não faço isso. O limite quem impõe é a revista, mas mesmo assim eu costumo ter cuidado com essas coisas, porque o excesso desse tipo de expressão costuma chamar muita atenção do leitor e pode até tirar o realismo quando se coloca muito desse tipo de conteúdo. Todas as cenas que eu desenhei foram publicadas, pelo menos até agora.

Hernán Migoya: No Salão de Mangá de Barcelona conhecemos uma cosplay da Reika que queria muito conhecê-lo. Alguma vez por aí você já encontrou alguma garota das que você desenha? Alguma fã já lhe abordou em algum evento de comics disfarçada de Reika ou de um outro personagem seu feminino?

Hiroya Oku: Eu fico honrado em saber disso, mas como não frequento esse tipo de evento, eu nunca cheguei a ver alguém fantasiado de um dos personagens da minha obra.

Hernán Migoya: Eu não gosto muito dos personagens vampiros. Acho que é o elemento mais extravagante da série. Você não acha que contradiz um pouco a lógica interna do mundo de Gantz?

Hiroya Oku: Os vampiros são o resultado da minha tentativa de fazer vilões em forma de humanos. Foi uma ideia que me veio por acaso. Pra mim, esses personagens existem de uma forma bem natural. Acho que o gosto por eles depende da sensibilidade de cada grupo ou indivíduo.

Hernán Migoya: Nós da Espanha imaginamos o nível de dedicação que exige um mangá como Gantz. Quantas horas você trabalha por dia? O que você faz exatamente e como instrui seus assistentes?

Hiroya Oku:  Eu só descanso nos domingos. Só durmo sete horas por dia. Entrego um capítulo todas semana, sem falta.
Faço o roteiro, o storyboard, o esboço dos personagens, os desenhos com a caneta e os desenhos das máquinas, assim como toda parte mecânica. Faço a forma dos aliens com um programa de 3D. Dou instruções gerais. Os assistentes se encarregam de retocar as fotos no computador para que sejam o fundo. Eles também dão forma às maquinas, o mecânico e o fundo com o programa de 3D e se ocupam da renderização dos volumes com o mesmo programa. Colocam os personagens nos cenários, fazem o preenchimento nos tons de cinza, etc.

Hernán Migoya: Paradoxalmente, em Gantz o uso do computador acrescenta à atmosfera do mangá um ar de pesadelo doentio. Isso foi algo consciente ou simplesmente o uso do computador foi só para dar mais emoção na ação?

Hiroya Oku: Ainda não sei em que parte tem esse "ar doentio". Não comecei a trabalhar no computador com Gantz., mas foi uma técnica original que eu trabalhei pouco a pouco, há muito tempo. Quero seguir aperfeiçoando essa técnica até conseguir chegar no ponto ideal. A grande vantagem é que me permite trabalhar com cenas muito elaboradas a ritmo semanal, sem tomar tanto tempo.

Hernán Migoya: O que você achou da adaptação em anime?

Hiroya Oku: Ficou diferente do que eu tinha imaginado, mas acho que os responsáveis do anime de Gantz fizeram o melhor trabalho possível, dentro da situação atual da animação japonesa.

Hernán Migoya: Você já planeja o final de Gantz ou ele vai ser um desses mangás que não acabam nunca? Você tem vontade de fazer mais capítulos ou já tem ideia de como a história vai terminar?

Hiroya Oku: Agora, com a versão original japonesa, eu cheguei a fazer a preparação dos capítulos que eu queria há muito tempo. Quando concluir todas essas ideias que quero na trama, aí eu finalizo Gantz.

Hernán Migoya:  Nós fãs de Gantz estamos tão acostumados a sofrer com as desgraças e desfechos tristes dos personagens, que inconscientemente esperamos um final muito trágico para a série. Podemos ter a esperança de que Gantz e Kei terão um final feliz?

Hiroya Oku: Tenho a intenção de dar um especie de resumo da vida no final desse mangá. É um mangá que eu gostaria de ler se eu fosse apenas um leitor. Meus filmes favoritos de Hollywood são Duro de Matar e De volta para o futuro. Com isso, você já pode ter uma ideia do que está por vir, eu acho.

Fonte: Gantz La esfera negra
Tradução: Alvarock

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