quinta-feira, 21 de outubro de 2021

ENTREVISTA: Hiroya Oku, autor de GANTZ discute os planos atuais e futuros da série (Hollywood)

(foto: Daryl Harding)


Depois de mergulhar profundamente em como Hiroya Oku criou GIGANT na primeira parte desta série de entrevistas, Kaho Shibuya e eu conversamos com Oku-sensei sobre seus trabalhos anteriores, onde estão os direitos de GANTZ atualmente e onde ele gostaria de ver a popular franquia no futuro. Com uma pitada de sua reação ao apoio internacional.


Tivemos que sentar com meste Oku e seu editor no escritório de Shogakukan - permitindo-nos falar livremente e francamente sobre seus trabalhos.


Nota: a entrevista originalmente foi feita em japonês em 2021, antes da publicação do último capítulo de Gigant.

 

(foto: Daryl Harding)


  Daryl Harding: Existe a produção de muitos reboots de animes hoje em dia, como Shaman King e Sailor Moon. Com o anime GANTZ (agora com 17 anos), você gostaria de ver um reinício?


  Hiroya Oku: Uau, já faz tanto tempo assim? Eu me pergunto se um reboot de anime é possível para GANTZ ... Mesmo para mangás seinen, o mangá é repleto de nudez e cenas sangrentas. Quando GANTZ teve sua adaptação para anime, enfrentou muita censura. Disseram-me algo como "não podemos fazer como você quer" do produtor de TV. O diretor do anime parecia ter muitas dificuldades. Com as coisas ficando mais rígidas atualmente, eu honestamente acho que a ideia de um reboot é difícil.


  Harding: Que tal um remake de Hollywood? Você respondeu a um boato no Twitter com um emoji de rosto calado.


  Oku: (Risos) Sim, não posso falar sobre todos os detalhes desse assunto, mas uma empresa de Hollywood tem os direitos de adaptar GANTZ no momento e, a menos que eles nos devolvam os direitos, não poderemos fazer nenhum dos dois, seja um anime ou uma adaptação live-action do mangá. Esse é o tipo de contrato de Hollywood; eles possuem todas as adaptações, incluindo anime e live-action, exceto mangá.

  Há outro spinoff chamado "GANTZ: E" que está sendo serializado no Young Jump (ilustrado por Jin Kagetsu) atualmente, que foi permitido pelos produtores (por ser um mangá), embora uma adaptação para anime desse spinoff não possa ser feita. Fico triste com isso, para ser honesto.


Harding: Por quanto tempo eles têm esses direitos?


Oku: Cerca de mais quatro anos, eu acho. Acabamos de fechar um contrato no ano passado (2020). Eu não fui atualizado sobre como a adaptação de Hollywood está indo ou se ela realmente será feita. É provável que o COVID-19 tenha pausado vários projetos novos lá, e GANTZ é provavelmente um deles. Se for esse o caso, gostaria de ter os direitos de volta.

 

(foto: Daryl Harding)



  Harding: Sobre o filme em CGI japonês de 2016, GANTZ: O, você contribuiu na produção?


Oku: Eu deixei isso para a equipe de produção, mas eles me pediram para redesenhar itens como as armas X, armas Y e a motocicleta de uma roda. Parecia que eles queriam adicionar detalhes mais elaborados a cada dispositivo mecânico do que no mangá, o que eu gostei muito.

 Eles disseram que poderiam fazer com que cada arma exibisse letras no LCD ou que o cilindro girasse. Escrevi em comentários como "piscar uma luz azul" em algumas partes enquanto as desenhava.



Kaho Shibuya: GANTZ se tornou um sucesso internacional. Por que você acha que foi tão bem recebido fora do Japão?


Oku: Não me ocorreu se a obra foi bem recebida em países estrangeiros. Sim, GANTZ foi traduzido para línguas estrangeiras como mangá e e-books. No entanto, o sentimento de muitas pessoas fora do Japão lendo meu mangá ainda não caiu. Eu sei que há alguns comentários não japoneses em minhas postagens no Twitter, mas não tenho certeza se meus trabalhos são populares lá.


Shibuya: YouTubers no exterior compartilham fazem resenhas de mangás e animes, e quando eu procurei por seu trabalho, vários canais franceses surgiram, especialmente sobre GIGANT.


 Oku: Poxa, eu não fazia ideia. Me conta mais.


Editor do Oku: Certamente! Disseram-me que para a versão francesa de GIGANT Volume 1, o grande número de impressões era especialmente raro e, desde então, vi muitas reimpressões.


Harding: Quando eu disse ao meu editor na Crunchyroll que íamos entrevistá-lo, ele ficou extremamente animado. Todo o escritório ficou. Na minha opinião, por que seus trabalhos não seriam populares no Ocidente quando séries maduras como Game of Thrones e Westworld são amadas por um grande público?


Oku: Sério, você acha?


Harding: Bem, o mangá agora está vendendo mais que os quadrinhos americanos nos Estados Unidos [em volume].


  Oku: Eu vi muitas pessoas falando sobre isso na internet. Eu também li um tweet de crítica sobre o quanto os quadrinhos americanos têm que se preocupar com o politicamente correto e os direitos autorais, enquanto o mangá não. (risos).


Shibuya: Bem, coisas como direitos autorais são muito mais rígidas aqui. Alguns fãs americanos se referem a você como um Stan Lee japonês porque muitas vezes você e seus outros trabalhos fazem participações especiais em suas outras séries.


Oku: Ah! Oku-kun em "HEN" leva o meu nome, mas se asemelha mais com um amigo da época do colégio. Nem a aparência nem a personalidade são minhas.

  A razão pela qual mostrei os pôsteres de "GANTZ" em "Inuyashiki" é que quero escrever mangás que pareçam estar realmente acontecendo na vida real. Eu gostaria de usar nomes reais e coisas, o máximo possível. No entanto, para citar outras séries, você precisa de permissão e, francamente, é um pouco incômodo fazer isso todas as vezes. Foi por conveniência que escolhi GANTZ, uma vez que detenho os direitos.

 

(foto: Daryl Harding)


  Harding: Existem marcas para as quais você pediu permissão, mas eles disseram que não?


Oku: Isso aconteceu em GANTZ. Era uma cena enorme de extraterrestres invadindo a Terra e enquanto as enormes criaturas robóticas caminhavam, eles veriam o grande Gundam que fica na região Odaiba, pensando que ele era um inimigo a ser destruído. Eu queria desenhar isso, mas nunca tive permissão, então desisti da ideia.


Harding: Isso teria sido muito interessante.


Shibuya: Você mencionou que seu mangá muitas vezes imita a realidade, e eles foram adaptados para live-action com mais frequência do que anime.


  Oku: Provavelmente porque meu trabalho artístico é bastante realista.


Editor do Oku: Nos anos 90, havia mais programas de TV adaptados de mangá em live-action, mas ultimamente é tudo mais em anime, o que pode aumentar as vendas de mangá em 10 vezes, como vemos com Demon Slayer por exemplo.


Shibuya: Como alguém que assiste a muitas produções em live-action, é mais especial para você quando adaptam suas histórias para live-action?


Oku: Não em particular, sou fã de anime desde criança. Eu até entrei para um clube de animação no colégio e desenhei muitas coisinhas de animação. Conseguir uma adaptação de anime me deixa tão feliz quanto ter adaptações de live-action. No entanto, me preocupo que, como meus desenhos têm muitas linhas, pode ser difícil para animes feitos à mão se assemelhar ao meu desenho. Meu estilo de arte parece difícil de se mover na animação. Mesmo em Inuyashiki, enquanto os personagens são delicadamente desenhados em close-ups, percebi que muitas linhas parecem ter se perdido nas tomadas mais amplas e eu fico achando que minha arte não é muito propícia para animação.


Shibuya: Em relação ao anime GANTZ, a animação principal era ótima, mas houve momentos em que pensamos "É esse o personagem que vimos no mangá?" enquanto eles estão se movendo.


  Oku: Eu sei do que você tá falando. Os rostos dos personagens que desenho parecem com humanos reais, o que seria difícil para os animadores reproduzirem os traços faciais na animação. Um estilo de arte deformado seria muito mais fácil de animar. Meu estilo de desenho em mangá torna difícil manter a consistência da animação e eu sinto que isso é um problema quando se trata de criar adaptações para anime a partir do meu mangá. Eu meio que me sinto mal pelos estúdios de anime (risos). Mesmo que o orçamento de produção seja igual ao de outros programas, animar meu trabalho requer muito mais linhas, portanto, mais trabalho e tempo na arte.


Editor do Oku: Muitos fãs de mangá ficam animados com as adaptações em anime como uma espécie de "versão melhorada" do trabalho original. Então, realmente ajuda se o trabalho do mangá tiver algum espaço para crescer, o que pode ser compensado no anime. Os animadores ficam motivados para desenhar visuais mais dramáticos para algumas cenas emocionantes e adicionar algumas batalhas legais, tanto quanto os leitores em geral que se inspiram para desenhar fanfics. Na minha opinião, o trabalho do meste Oku é perfeito por si só, o que significa que não há o que melhorar. Talvez seus mangás não sejam compatíveis com essa história de "o anime torna o mangá mais bonito e famoso".


  Shibuya: Como você conseguiu uma arte tão única? No início da sua carreira, o estilo parecia bastante cinematográfico, mas acabou chegando ao ponto em que os leitores podiam dizer com certeza que se tratava de um desenho seu.


Oku: Gradualmente, descobri isso desenhando uma série após a outra. Na verdade, é muito sutil para os outros perceberem, mas tento mudar a aparência do meu estilo de desenho para cada mangá. Meu estilo de desenho antes de "HEN" era bem diferente, mas quando tive a ideia de "HEN", pensei que uma mistura de mangá-shojo e estilo "cartoon" se encaixaria no tema da série. Depois de "HEN", eu queria desenhar novamente um estilo de arte mais dramático, que se tornou o "Zero One", mas foi um fracasso comercial. Por isso, desenhei "GANTZ" um pouco mais mangá do que "Zero One". "Inuyashiki" é onde eu pude finalmente adicionar um toque super detalhado e dramático e fazer com que pareça um conteúdo de seinen mesmo. Agora estou tentando tornar a arte um pouco mais casual para "GIGANT".

 

Harding: Qual é o seu estilo favorito de desenhar?


Oku: Acho que adoro desenhar o estilo dramático de "Inuyashiki".


 

(foto: Daryl Harding)


Shibuya: Enquanto você desenhava "GANTZ", você mencionou em uma entrevista que "Personagens bonitos como Kurono e Kato são mais difíceis de desenhar do que alguém como o Sr.Suzuki". Isso mudou?


  Oku: Eu gosto de trabalhar personagens bonitos, mas desenho de rosto tão bonito é difícil de manter uma harmonia. Eles são tão frágeis que um pequeno acidente pode arruinar tudo. Homens velhos como o Sr.Suzuki podem ser desenhados de maneira grosseira e sempre parecem funcionar. Rostos bonitos requerem atenção e esforços extenuantes. Cada vez que desenho personagens bonitos, espero criar meu visual ideal conforme desenho mais e mais, sem ficar consertando toda hora.


Shibuya: Achei a primeira capa de "Inuyashiki", o rosto do velho com rugas detalhadas e tudo, incrivelmente realista. Quanto tempo demorou para desenhar?


  Oku: Não leva muito tempo, mesmo com todas aquelas rugas. Desenhar o próprio Inuyashiki não precisa de muita atenção para ficar bacana, então posso relaxar enquanto desenho. Desenhar personagens bonitos consome muito mais energia. Em relação a "GIGANT", ambos os personagens principais Papico e Rei são bonitos e eu tenho que desenhar com foco intenso enquanto os visualizo vividamente em minha cabeça.

Na verdade, muitos artistas de mangá dizem que gostam de desenhar velhinhos, porque é fácil. Não há pressão com esses personagens.


Harding: A impressão das pessoas sobre suas obras em geral, principalmente porque a mais conhecida é "GANTZ", é de que tudo é só erotismo, bizarrice e violência. Você usa esses três elementos intencionalmente?


Oku: Sim, eles são na verdade meus gêneros favoritos de assistir, como Game of Thrones e The Boys. Eu amo uma obra com esses elementos, assim como uma tigela de lámen com cada uma das minhas coberturas favoritas. Eu acho que realmente, o que eu quero escrever é algo que eu mesmo quero assistir. Se houvesse outro eu, eu imagino que ele ficaria super animado lendo meu trabalho. É assim que me sinto cada vez que escrevo uma história. Então, naturalmente, meu mangá tem esses elementos centrais.


Editor do Oku: Desculpe por comentar de novo... mas acho que o trabalho do mestre Oku pode até ter erotismo e bizarrices, mas também fala de amor e tem cenas cômicas bobas também. Como editor, tem muitos ingredientes e é bastante saboroso. Acho esse tipo de entretenimento bastante rico em comparação com o conteúdo recente que se tem em gêneros como moe ou ecchi. Eles são feitos especialmente para cada base de fãs. A história do mestre Oku me faz sentir muito contente como editor.


  Harding: Você trabalhou com três grandes editoras no Japão: Shueisha, Kodansha e agora Shogakukan. Existem diferenças ou você trabalha de forma diferente? Como se ajustar a cada editora?


Oku: Não, eu não faço uma tentativa de mudança para cada empresa. Todas elas têm sua própria cultura corporativa, mas não é muito óbvio para mim identificar como elas variam entre si e presto pouca atenção a esse tipo de coisa. Eles me deram ofertas e eu respondi a cada uma delas por ordem de chegada.


  Editor do Oku: Não acho que o gênero seinen varie muito dependendo da editora. Fui um editor freelance até o ano passado. A Kadokawa é hábil na criação de muito conteúdo, a Shonen Jump é uma potência da Shueisha sem comparação. Todos eles têm seus próprios pontos fortes, mas as revistas seinen não são tão obviamente diferentes umas das outras.


Shibuya: É incrível que você tem muitos fãs não japoneses, mesmo que você não saiba da popularidade internacional e não esteja particularmente almejando isso.


Oku: Duvido que qualquer artista de mangá japonês comece tentando fazer mangás voltados para leitores estrangeiros. Se você pensar sobre seu público de maneira muito ampla, a série pode se tornar sem graça e entediante. Você precisa ganhar fãs que possam ler seu conteúdo antes dele ser traduzido em outras línguas.


Shibuya: Você está interessado em fazer sua aparição em convenções internacionais?


Oku: Eu não gosto de voos longos ... (risos)


Shibuya: Você também não mostra mais seu rosto para o público, existe um motivo para isso?


Oku: Eu costumava mostrar minha cara antes que a internet se tornasse uma grande parte do nosso dia a dia. Recentemente, com o Twitter e outras redes sociais, acho chato quando sua foto é compartilhada sem o seu conhecimento e as pessoas fazem comentários maldosos sobre o seu visual. Nada de bom pode acontecer quando os criadores de mangá mostram sua cara publicamente. Quer dizer, isso não vai ajudar as vendas de mangás. Mais e mais criadores de mangás das gerações mais jovens optam por não serem fotografados, provavelmente por causa da internet e como haters podem falar horrivelmente sobre sua aparência.


Harding: Tá sendo bem diferente dos anos 80 né? Lembro-me de ver uma vez na capa da Shonen Jump os rostos dos autores.


  Oku: Eu lembro disso. Costumavam tirar fotos em grupo de artistas nas festas da editora, mas não mais. Presumivelmente, os autores não queriam aparecer em fotos, mas não falavam sobre isso. Ultimamente, não faço idéia de como são os mangakás da Shonen Jump, até mesmo se são homens ou mulheres.


Editor do Oku: Até pouco tempo, eles ainda colocavam os endereços residenciais reais dos autores, para os fãs enviarem cartas. Algumas crianças iam até as casas e tocavam a campainha, segurando uma placa para ser autografada.


Oku: Eu ouvi muito essas histórias. Mais antigas do que os anos 80, como Fujiko Fujio, Tetsuya Chiba e a era do mestre Osamu Tezuka. Isso é impensável hoje em dia.


Harding: Revelar onde você mora seria assustador com o Google Earth por aí...


Editor do Oku: Eu vou a cerimônias de premiação e aceito em nome dos autores vencedores, e quando minha cara vai parar em fotos na internet quando as pessoas pesquisam o nome do autor, vejo comentários como "Nossa, esse velho ainda consegue escrever?", e eu penso "Calma aí! Esse sou eu." (risos) A internet não é legal.


  Oku: Eu realmente lamento ter concordado em ter meu rosto exposto em fotos tiradas no passado, porque as pessoas ainda podem procurá-las no Google e continuar usando.


Shibuya: Você é reconhecido por causa disso?


Oku: Na verdade não, mas devido ao tipo de conteúdo que faço, as pessoas de alguma forma presumem que sou assustador. Sempre que recebo um novo assistente no trabalho, eles dizem "Achei que você seria uma pessoa assustadora". Eles ficam surpresos ao descobrir que sou super comum.


Harding: Por último, há algum comentário que você gostaria de fazer aos fãs internacionais?


Oku: Para começar, eu não penso em um público em particular enquanto escrevo meu mangá. Como um criador de mangás japonês, comecei a escrever na esperança de ser aceito aqui no Japão. Então, a ideia de pessoas de fora do Japão amarem minha série, fazem com que me sinta fantasticamente afortunado. Tudo o que posso dizer é: obrigado. Se você gosta do meu trabalho, por favor, aguarde por mais. Vou ficar como estou e manter meu estilo peculiar e continuar a escrever do meu próprio jeito original. 


  Harding e Shibuya: Ao contrário da violência e loucura em seu trabalho, você é uma pessoa tão tranquila. Agradecemos por dedicar um tempo de sua agenda lotada para esta entrevista.


Oku: De nada. Eu que agradeço.


 

Hiroya Oku sem mostrar o rosto (foto: Daryl Harding)


Daryl Harding é correspondente no Japão da Crunchyroll News. Ele também dirige um canal no YouTube sobre coisas do Japão chamado TheDoctorDazza, tweeter @DoctorDazza e posta fotos de suas viagens no Instagram.


Kaho Shibuya é um talento japonês que pode ser encontrado exibindo suas fotos de cosplay no Twitter e Instagram e jogando videogame no Twitch.


Originalmente escrito por: Daryl Harding

Tradução: Gantz Brasil